sábado, 2 de fevereiro de 2008

uns e zeros

foram viagens
dentro de mim
pelo Mundo
por Lisboa
pelos meus limites
pelas minhas pontes
e pelas minhas portas
fechei-as
sou uma redoma que não parte
transparente
quando quer
translúcida
até morrer

anjos,lx

desci a rua
mais estreita
por baixo deste céu
caras
línguas que não conheço
só reconheço
os olhares
que são universais
alguns cheiros
nem todos
demasiado internacionais
um homem cambaleia
tropeçando na sua vida
e na sua morte
à sua sorte
chego à praça
duas cores
trocam palavras
trocam favores
experimentam-se sabores
aqui
eu não sou ninguém
sou uma raça
sou uma branca
alguém
todos andam agrupados
pouco misturados
quando se juntam
é para trocar
comprar
vender
estas três coisas
estão sempre a acontecer
do amanhecer
ao anoitecer
numa loja
numa esquina
uma troca há-de haver
numa zona de vício
de miséria
o dia não acaba
o corpo não acalma
há uma sede de abandono
ao que nos deixa
completos e dormentes
mesmo que cada vez mais
incompletos e infelizes
o meu cérebro paira
entre a palavra e a cor
como um trovador
canto
e conto
estas histórias que vejo
nesta vida que tenho percorrido
guardo frases
que não serão repetidas

eis-me aqui

há cair
partir uma perna
usar gesso
voltar a andar
meses
há cair
de um décimo andar
fazer múltiplas fraturas
esperar que tudo volte ao sítio
este cair
pode demorar anos
a ultrapassar
eu caí de um décimo andar
hoje já consigo andar
mas ainda me custa mover
ainda me custa viver
ainda não recuperei tudo
o que perdi
eis-me aqui

era assim...

esta ligação
estes anos
quilómetros de frases
de conversas
nunca longe o suficiente
nunca perto
ouvia a tua respiração
mas não via a tua cara
hoje
quero quebrar as correntes
quero não te ouvir
não te ler
não te saber vivo
sentimento permissivo
de quem não agarra
nem larga
de quem se perde no passado
no que já não é
não volta
não será
e eu sinto-me presa
à saudade
àquilo que não é verdade