domingo, 19 de agosto de 2007

tudo na nossa pele

os nomes substituem-se
as caras
os cheiros
os dias
fantasmas de pessoas que já morreram
ou que já não voltam
é igual
todos nós morremos tantas vezes
em cada vida
o homem que chega à campa
não é o homem que era à partida
na despedida
somos nós
e um somar
subtrair
multiplicar
e dividir
de pessoas
de renascimentos
de perdas
tudo na nossa pele
no nosso sangue
até ao último momento.

sábado, 18 de agosto de 2007

uma solidão muito minha

O que me leva a pensar
presenças
ausências
acabamos sempre por estar um pouco sózinhos
mesmo quando acompanhada
mesmo na cama de casal
há aquela solidão
mesmo na vida em comum
há silêncios
em todos os minutos da minha vida
me senti diferente
e igual
como se presa a qualquer coisa
presa a uma solidão muito minha
como uma sombra
nem acompanhada deixo de me sentir sózinha
acho que tenho ansiedade de separação
preciso de sentir a pessoa muito próxima
muito tempo
para a sentir minha
para me sentir dela
já fui tão diferente
tão feliz
tão despreocupada
não pensar em quase nada
a vida era simples
o dia era cheio
o tempo passa
passa uma década
passam duas
e nós críamos raízes
quando podemos voar
pousar em todo o lado
visitar
sinto que estou parada
sem fazer nada
quando podia estar a produzir
e a lutar
e não me estava a lamentar
a divagar
nas ironias
a tentar fazer um sentido
no que já foi feito
já foi resolvido
acaba por não ter sido resolvido
foi porque lá ficou
mas não foi porque não consegui ainda articular
quando fizer sentido
eu arrumo
não falo mais
eu quero é perceber

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

insónia

não sei se me envergonhe
se volte à minha vida em silêncio
me feche nos meus dias
nas minhas coisas
para esquecer que gostei tanto de estar contigo
de te ouvir respirar
de me abraçares,
ensonado
já levado pelo impulso
sem vontade própria
de me olhares nos olhos
e dizeres
as coisas mais acertadas
e mais disparatadas
para nos rir-mos
esquecer isso tudo
e o que não quero
e o que não consigo dizer
deixar de falar contigo como falava
porque não consigo
ultrapassou-se qualquer coisa
que não devia ter sido ultrapassada
e a solução
é fingir que nada se passou
que não te conheço
sinto-me desfeita
a desgraça perfeita.